Por: Sharon Halpern

Nas últimas semanas os investidores brasileiros foram apresentados a uma novidade na indústria de fundos de investimentos: opções que, visando atrair clientes, não estão cobrando taxas de administração. Mas será que isto realmente é uma vantagem?

Os fundos de investimentos são veículos que permitem que investidores comuns tenham seus recursos geridos por profissionais especializados. Estes, porém, devem ser remunerados por seu trabalho, via a taxa de administração cobrada. E esse ponto precisa ser avaliado com muito mais cautela do que parece: será que apenas essa taxa deve ser um indicativo para analisar qual fundo tem a melhor estratégia para seus investimentos?

Quando investimos nosso patrimônio em um fundo estamos, na verdade, comprando cotas de uma empresa. E, assim como toda organização, esta possui um administrador e um gestor, que ditará o que fazer com o patrimônio que está ali presente. A forma com que ambos serão remunerados nada mais é do que a taxa de administração que o fundo cobrará. Portanto, quanto mais complexo o trabalho de análise do gestor, maior deve ser o quanto se cobra por isto. Por exemplo: fundos de ações, ou FIAs no jargão de mercado, têm taxas de administração mais altas quando comparados aos fundos de renda fixa.

O primeiro deles, que deve ter pelo menos 67% do seu PL investido em papéis, exige do gestor análise minuciosa de cada um, além de uma equipe de analistas robusta e análise de tendências macroeconômicas. Fundos de renda fixa, contudo, requerem pouca troca de papéis, justamente por terem seus rendimentos já determinados nos momentos de compra do ativo. Por isto, estes tendem a cobrar taxas de administração inferiores.

A taxa de administração é expressa em uma porcentagem ao ano e cobrada proporcionalmente ao valor investido no fundo, diariamente. Um ponto importante de atenção: todos os fundos de investimento são obrigados a expressarem e publicarem suas rentabilidades já líquidos desta tarifa. Desta forma, o investidor deve sempre se atentar que um fundo que apresenta maior retorno e maior taxa de administração é mais vantajoso do que um que tem menor rentabilidade e menor taxa.

No caso dos fundos recentemente anunciados com taxa zero, suas carteiras são compostas apenas por títulos do governo pós fixados. Com isso, não há grande esforço por parte do gestor deste para escolha dos melhores investimentos. Além disto, é cobrado duas vezes ao ano o come-cotas (o que não ocorre comprando estes títulos diretamente), levando o fundo a não entregar retornos acima do CDI. Existem hoje fundos com liquidez imediata, que ainda que cobrem taxa, permitem ao investidor ter retornos de mais de 100% do CDI. Portanto, fundos que entreguem rentabilidades maiores, mesmo cobrando maior taxa de administração, são mais benéficos ao cotista.

As taxas de administração de fundos de investimento são pauta de longa discussão. O investidor que não tem conhecimento pode ser levado a acreditar que são tais taxas que ditam qual é o ativo mais benéfico para seus recursos, o que não é uma realidade. Ficamos também com uma questão em mente: quando se trata das suas finanças, devemos ter consciencia que você provavelmente escolheria os melhores profissionais para cuidar do seu patrimônio. Fazendo um paralelo: você daria sua saúde nas mãos de um médico que não cobra consulta?

*Sharon Halpern é sócia e assessora da Blackbird Investimentos, escritório credenciado à XP Investimentos.